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Estou de Luto. Preciso de ajuda!

Luto por alguém que partiu faz parte da vida de todos, sem excepção. O objectivo deste post é dar a conhecer as diversas fases do luto e quando deve pedir ajuda ao seu Médico de Família ou outro profissional de saúde.

O luto é uma reação emocional a uma perda significativa. É um processo natural e um modo de recuperação emocional face à perda. Existem vários tipos de luto: o mais frequente, quando se perde alguém significativo; o luto antecipatório, por exemplo na antecipação de um ente-querido com doença oncológica terminal e o luto complicado, que é uma perturbação psicológica.

O luto tem várias etapas consideradas normais e necessárias, sendo muito importante respeitá-las. A duração de cada etapa varia de pessoa para pessoa. As etapas não são lineares e estas são as etapas propostas por John Bowlby:

  1. Choque ou negação. Nesta etapa pode sentir-se confuso ou atordoado e existe uma necessidade de evitar a realidade.
  2. Anseio e busca da figura perdida. Apesar do confronto com a realidade, a pessoa ainda não aceitou a mesma pelo que inicia uma procura e espera ansiosa pela pessoa ‘desaparecida’, apresentando um desejo intenso de recuperar o ente querido, que se traduz em sonhos e inquietação.
  3. Desorganização e Desespero. Surge a permanência da perda, desenvolvem-se sentimentos de raiva e tristeza devido à sensação de abandono e de incapacidade para reverter a situação.
  4. Aceitação e reorganização da vida. Retoma-se de forma gradual o funcionamento habitual, apesar da saudade estar sempre presente.

 

É normal as pessoas enlutadas apresentarem sintomas típicos de Depressão Unipolar. (Será abordada noutro post)

O que pode fazer?

 

  • Exprima sua dor, chore o que for preciso.
  • Fale com outras pessoas em quem confia. Transmita as suas preocupações e desgostos.
  • Não se iniba de pedir ajuda! 
  • Alimente-se o melhor possível e durma o maior número de horas que conseguir.
  • Evite o álcool e outras drogas.
  • Não se auto-medique, nem aceite medicamentos de outras pessoas que não são profissionais de saúde.
  • Protele decisões importantes.

 

É normal reviver sentimentos de tristeza quando ouve uma música, quando passa por um lugar ou no dia de aniversário da pessoa que perdeu. Com o tempo, a intensidade destes sentimentos diminui. Não desaparece.

 

Quando deve pedir ajuda ao seu Médico de Família?

 

  1. Se apresentar ansiedade intensa que interferem com as suas actividades diárias;
  2. Se apresentar sintomas depressivos por mais de 2 meses (por vezes, é muito difícil de distinguir de depressão);
  3. Dificuldade em adormecer e em manter um sono reparador por vários dias ou semanas; 
  4. Se pensa que não consegue superar esta perda;
  5. Se não consegue evitar o consumo de álcool, medicamentos ou drogas para lidar com esta situação.

 

Normalmente, o luto pode durar de alguns meses a alguns anos, ainda que seja tudo variável.

 

O luto termina quando se é capaz de pensar na pessoa que morreu sem dor, recordando memórias felizes, sendo de novo possível um equilíbrio emocional.  Pode ser necessário procurar apoio psicológico para facilitar este processo. 

 

Bronquiolite

A bronquiolite é uma infecção respiratória comum que afeta crianças pequenas, sobretudo aquelas com menos de dois anos de idade.

 

Normalmente é de etiologia viral e o vírus mais frequente é o Vírus Sincicial Respiratório (75% dos casos).

 

Tem padrão sazonal: Outubro a Março e o pico de incidência 3-6 meses. Transmite-se por contacto com gotículas respiratórias. 

 

13% dos bebés apresentam bronquiolite aguda no 1º ano de vida.

 

Na maioria das vezes é autolimitada, mas algumas crianças necessitam de observação por um médico.

 

Quais são os sintomas da bronquiolite?

 

Numa fase inicial, os sintomas mais comuns são:

  • Rinorreia (Nariz a pingar)
  • Tosse
  • Febre (> 38ºC)
  • Diminuição do apetite

À medida que a doença progride pode surgir:

  • Respiração mais rápida 
  • Pieira
  • Tosse mais frequente e arrastada
  • Pausas entre a respiração (15-20 segundos)

 Quando deve recorrer a um médico?

  • Tiragem (covas que surgem entre as costelas)
  • Adejo nasal (Narinas aumentam de tamanho na inspiração)
  • Tem menos de 3 meses e febre superior a 38ºC
  • Tem mais de 3 meses e febre superior a 38ºC há mais de  3 dias e que não cede com medicação
  • Fraldas consecutivas mais secas que o normal
  • Lábios azuis ou cinzentos
  • Mostra sinais de dificuldade respiratória
  • Quando deve recorrer a um médico?

Como se trata?

O tratamento é sobretudo sintomático:

  • Elevação da cabeceira a 30º
  • Fraccionamento das refeições
  • Lavagem nasal/aspiração de secreções nasais
  • Hidratação adequada
  • Medicamentos que baixam a febre (Antipiréticos)

 

Nos casos mais graves, algumas crianças podem necessitar de oxigénio.

 

Autodeclaração de Doença

Sabe que já é possível pedir uma autodeclaração de doença (ADD), o equivalente à chamada “baixa médica”?

 

O que é a autodeclaração de doença?

 

A ADD é um documento, declarado pelo próprio e sob compromisso de honra, que comprova que se encontra doente e impossibilitado de trabalhar. Assim, o próprio utente passa a assumir a responsabilidade de justificar a sua ausência por doença.

 

Pode ser pedida por qualquer trabalhador com idade igual ou superior a 16 anos. E tem de ser requerida no prazo máximo de 5 dias, após o primeiro dia de ausência.

 

Quando posso pedir a autodeclaração de doença e qual a duração que pode ter?

 

A ADD pode ser requerida no prazo máximo de 5 dias a partir do primeiro dia de ausência por doença.

Cada ADD justifica no máximo 3 dias de ausência e por ano civil podem ser pedidas duas ADD, cada uma por um período máximo de 3 dias. Ou seja, o utente tem direito a um total de 6 dias (não consecutivos) justificados por se autodeclarar doente. 

Se for necessária uma terceira ADD ou uma com mais do que 3 dias de duração, tem de ser pedida ao médico.

 

Onde posso pedir a declaração?

 

A ADD pode ser pedida na área pessoal do portal do SNS 24, na App SNS 24 e através da Linha SNS 24 (808 24 24 24).

 

Como é feito o pagamento desses dias?

 

À semelhança do que acontece com o Certificado de Incapacidade Temporária emitido por um médico, vulgarmente conhecido por baixa médica, nos primeiros 3 dias de ausência por doença não há lugar ao pagamento de retribuição por parte da entidade patronal. 

 

Como comunico à entidade patronal que me ausentei por ter uma autodeclaração?

 

Para comunicar à entidade patronal a sua ausência por doença, deve facultar-lhe o código de acesso que recebeu através de SMS e/ou e-mail após a emissão da autodeclaração.

Não bastam os livros

Estava sentado a escrever um diário clínico e amaldiçoar o teclado (que exige uma força descomunal na letra R). A enfermeira abre a porta do gabinete de repente:

– Dr. tem de vir à cama X! É urgente!

Fico colado à cadeira. Tento ganhar tempo e pergunto:

– O que se passa?

A enfermeira insiste: – Tem de vir!

Levanto-me e sinto o coração a acelerar. Sou o único médico numa enfermaria com 24 camas. E tive a consciência, que pela primeira vez, teria de resolver sozinho o quer que fosse.

Percorro o caminho para o quarto a tentar prever o que me espera.  Chego e vejo a senhora de olhos abertos e boca aberta. Mas, estranhamente, não está a respirar. A senhora faleceu.

Apesar de nunca a ter observado, conheço grande parte da sua história. Todos os dias se discutem todos os doentes da equipa. Sei que o desfecho era mais ou menos esperado. E que que havia uma decisão para não iniciar as manobras de reanimação.

Encosto o estetoscópio e oiço batimentos cardíacos. Ficou confuso. Mas depois percebo que estou a sentir a minha frequência cardíaca. Acelerada. Penso se isto será uma partida. Que a doente vai recomeçar a respirar a qualquer momento! Recordo-me vagamente das aulas de Medicina Legal. Olho para o relógio, faço as manobras que me lembro. O mais desconcertante é o silêncio do lado esquerdo do tórax. De forma irracional, continuo a achar que a doente vai recuperar.

Chega a ajuda mais sénior. Pergunta-me se vi as horas e o que fiz para verificar. Esqueci-me de algumas, mas prontamente me explica e exemplifica as outras.

Fico a ouvir a chamada. Com uma voz calma e empática, pergunta se o familiar pode falar. Se está a conduzir ou a fazer alguma coisa. Se pode parar e sentar-se num sítio mais calmo. E diz a frase. Consigo ouvir o familiar a chorar. Sei perfeitamente o que está a sentir. O embate. A angústia. A incredulidade. Emociono-me.

Recordo-me da chamada que recebi quando o meu pai faleceu. Demorou exactamente 17 segundos. Não houve empatia, nem conforto. Apenas uma informação.

A chamada prolonga-se por mais uns minutos. A colega quase sempre em silêncio. Deixa o familiar chorar. Procura dar o conforto possível, fala de forma calma e sem pressa para desligar a chamada.

Para ser Médico não bastam os livros. Dependemos muito dos nossos pares e temos de passar por certos rituais. Sempre os mais experientes a ensinar os que agora chegaram, que um dia ensinarão os que estão agora nas cadeiras da faculdade.

Esta cadeia está cada vez mais frágil e qualquer dia deixará de existir. Não haverá ninguém que ensine os recém chegados. Perder-se-ão dezenas de anos de conhecimentos e de experiência. Para sempre.

E quem fica a perder? Todos. Sobretudo as futuras gerações.

 

 

Doente com 96 anos. A meio da consulta confessou que estava triste. Triste porque apesar de todos os sacrifícios, não tinha aproveitado a vida. E agora era velha demais para fazer tudo aquilo que adiou. Pediu-me para não cometer o mesmo erro. Dá que pensar, não?

Não se pode ensinar truques a um urso velho

“Não se pode ensinar truques a um urso velho.” – Masha de Masha e o Urso.

Em algumas situações sociais, reparo que algumas pessoas cristalizaram no tempo. Defendem as mesmas opiniões de sempre, apesar de quase tudo ter mudado nos últimos anos.

Longe vão os tempos em que defendia apaixonadamente os meus pontos de vista, na tentativa inglória de abrir os olhos a quem quisesse mesmo ouvir. Mas uma das coisas que a idade nos ensina, é a serenidade. Não posso mudar o Mundo, mas pelas minhas acções posso torná-lo um pedacinho melhor. Cada vez mais, os atos e os valores valem mais que as palavras.

Noto que cada vez falo menos, mas quando intervenho, tento que cada palavra reflicta não só aquilo que penso, mas sobretudo o que faço. Também, cada vez julgo menos os outros. Por um lado, não tenho todos os factos e por outro não me cabe a mim esse papel.

A única coisa que posso fazer é continuar a aprender de tudo um pouco e transmitir esse conhecimento aos meus filhos. Ser um urso velho é muito fácil actualmente, basta abrir o Netflix ou o Instagram e passar horas a consumir conteúdo passivamente, sem qualquer espírito crítico. Com tanto conhecimento disponível e quase todo de forma gratuita, nunca houve tão pouca apetência para aprender.

 

O mundo não será mais o mesmo

Lembro-me bem das aulas de História na escola. Nunca foi preciso estudar muito. Lia os livros com o prazer de saber o que tinha acontecido no passado. Fascinado com o progresso e horrorizado com todas as atrocidades que nos fizeram chegar até hoje.

Cedo aprendi que versão da história que prevalece é a dos vencedores. Só a muito custo e muito tempo depois é possível apurar a verdade. Um exemplo, a União Soviética. Porque ajudaram derrotar Hitler e a sua horda, nunca se falou a sério do que se passou para lá da Cortina de Ferro. Dos milhões de pessoas que morreram à fome e obrigados a trabalhos pesados, a maioria no “Arquipélago Gulag”. Nas terríveis condições em que viveram a maioria dos soviéticos até à década de noventa.

A maioria das repúblicas ex-soviéticas, viradas para a Europa, modernizaram-se e prosperaram. A Rússia continuou um país difícil de governar e a atrair para a liderança homens que pouco se interessam pelos seu conterrâneos. A frágil democracia russa sucumbiu imediatamente a homens sem escrúpulos com sede de poder.

E a partir de ontem, o mundo não será mais o mesmo. O ditador de um país decidiu invadir outro país soberano. Sem qualquer justificação verosímil.

E os chamados “países desenvolvidos”, que se gabam de serem defensores da Liberdade, ficaram a olhar com votos de protesto e de indignação.

Ficar de dependente de países, tudo menos democráticos, tem destas consequências.

Quase todos se esqueceram da História… e estão condenados a repeti-la até que aprendam. As semelhanças com a última Grande Guerra são inegáveis e o comportamento dos políticos que lideram a Europa semelhantes.

Será que é desta?

Conhecer pessoas através dos nossos filhos

Uma das tragédias da vida adulta: a idade limita as nossas interacções sociais. Talvez porque estamos demasiado preocupados com o nosso umbigo. Talvez não queiramos incomodar os outros.

Estas férias na praia não foram diferentes. Os miúdos a brincar na praia, reparam noutros miúdos e começam a brincar juntos. Às vezes, uma única vez. Muitas vezes de forma tímida, cada um com o seu brinquedo, prancha ou bola.

E depois existem as amizades (?) que se desenrolam à nossa frente. Começam à espera uns dos outros, a partilhar o lanche da manhã e a trazer todos os brinquedos e toalhas. Tudo ao molho!

Aqui entram os pais. Nós e os outros pais. Os primeiros contactos são apenas de cortesia. Um cumprimento, um reparo sobre o calor ou a temperatura da praia. Com o passar do tempo,  ao lado dos pais dos outros a vigiar os garotos, a conversa é inevitável. Se no passado, evitava o diálogo e permanecia em silêncio. Actualmente, procuro promover o diálogo. Nunca sei o que a pessoa ao meu lado tem para me ensinar.

Este ano não foi excepção. Os outros miúdos tinham quase a mesma idade dos meus e por isso deram-se logo muito bem. E os outros pais tinham uma experiência de vida engraçada e corajosa. Com a falta de perspectivas de trabalho e com cursos superiores, rumaram à Suécia e lá se estabeleceram.

Foi fascinante saber como é viver neste país. Como, em todos os países, existem aspectos positivos e negativos. (Mas cá para mim, os positivos são diminuem em muito os negativos.)

Apesar disso, não deixam de ser portugueses. E existe qualquer coisa neste rectângulo que nos faz querer sempre voltar… Será a Saudade? Depois da Suécia, descobri que o outro pai também fora uma grande jogador de Magic e que também era fã de jogar FPS nos computadores que também montava sozinho. Mais umas horas de conversa ininterrupta!

As conversas, entre pais, multiplicaram-se e os miúdos cada vez mais cúmplices. E as férias quase no fim. Sabia que ía ser complicado para os miúdos. O meu miúdo mais velho ía adiantado que tinha arranjado um melhor amigo e se podia ir a casa dele…

Optámos por nos despedir com apenas “Até Logo”, mas o outro miúdo mais velho também não ficou satisfeito. Das nossas conversas, os outros pais tinham um ideia onde era o nosso apartamento. Por isso, os outros miúdos vieram para a rua chamar pelos nossos. E atrás deles, a outra mãe.

Queriam o nosso número de telefone. Para, quem sabe, nos reencontrarmos no futuro. Ficámos também com os números deles. E agora, ficou prometido um reencontro para a altura do Natal.

Incrível. Tudo isto por causa dos miúdos. Se tudo dependesse dos adultos, nunca teria conhecido estas pessoas.

Não dá que pensar?

Cada vez me questiono. Porque não começar pela saúde mental dos doentes? E só depois pela doença orgânica? Com as devidas excepções, como é óbvio.

Pessoas com a sua insuficiência cardíaca muito bem controlada, continuam sem motivos para se levantarem da cama, se não se sentirem bem psicologicamente ou sem um propósito para a sua vida.