Nos últimos meses tenho tido o privilégio de transportar o filhote mais velho para creche.

No início, a experiência não foi agradável, confesso. O filhote pedia incessantemente para o levar para casa, para não o deixar na escola. Mal transpúnhamos o portão principal, chorava agarrado a mim. À porta da sala não me queria largar. Percorria aquele corredor de volta ao carro inundado de tristeza e de dúvidas.

Com o tempo, as viagens foram mudando. Ora vamos calados, ora numa sessão de perguntas e respostas, ora em conversas sem sentido, mas muito divertidas.

Mas o que me deixa orgulhoso, além das perguntas que faz, é que ele escolha viajar em silêncio, embora atento ao mundo que o rodeia. Quase que consigo ouvir as sinapses dele a fervilharem de tanta actividade. As vezes faz a pergunta logo ali “Os comboios amarelos são da Carris?”, “Aquele prédio tem dói, dói?” (Referindo-se ao Padrão dos Descobrimentos, que como está em obras tem uma gigantesca lona branca a escondê-lo). Outras vezes faz perguntas horas ou dia depois “Papá porque apitaste?” “Estavas triste com a menina [condutora]?”

A meu ver, conseguir estar em silêncio próximo das outras pessoas é um inequívoco sinal de inteligência. Não significa estar sempre calado sem dizer nada, mas ficar calado se nada de interessante existe para acrescentar.

Espero que, tanto ele, como o mais novo nunca percam a curiosidade pelo mundo que os rodeia. Porque é uma das características que os levará longe na vida.